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O Espaço como uma Forma de Resistência na Narrativa de Mia Couto


O esforço para constituir um registro da memória cultural africana é um dos procedimentos mais recorrentes na obra de Mia Couto. Abordado sob múltiplas perspectivas, o tema parece adquirir uma roupagem diferenciada a cada novo volume publicado. No romance A varanda do frangipani (1996), o autor faz uma leitura do período em que já começava a esfriar a guerra civil que sucedeu à libertação de Moçambique do domínio português. Tendo como cenário uma fortaleza isolada na costa moçambicana, esse espaço figura como representação das condições vividas pelos países africanos escravizados. O romance narra a trajetória de um inspetor de polícia enviado pela Nação para investigar a morte do diretor da fortaleza. Deslocado da terra natal, pode-se dizer que a observação e o julgamento do espaço alheio já constituem formas de reescrever a história daquele povo. Como a estrutura do romance alterna a voz do narrador com os relatos dos personagens, esse livro acaba por comprovar que o espaço é construído antes por um fenômeno perceptivo e pelo tecido mnemônico do que por segmentos meramente físicos e materiais. O objetivo deste trabalho, portanto, é fazer uma análise do romance A varanda do frangipani, tomando como ponto de partida a sua configuração espacial. Amparado nas teorias de Lefèbvre, Foucault, Bachelard e Merleau-Ponty, pretende-se evidenciar o modo como visões divergentes da realidade agem na composição do espaço. Depois, planeja-se mostrar que o microespaço delineado na obra revela dados substanciais acerca da paisagem cultural e da sociedade africana, que aparecem estruturadas em uma espécie dialética da construção (marcada pela presença da cultura ancestral e pela esperança de um mundo livre) e da destruição (centrada na imagem do espaço em ruínas e do sentimento de medo diante da guerra).

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