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A Estruturação do Espaço em "Lavoura arcaica" e "O quarto em Arles"


Durante séculos, a categoria do espaço foi pouco privilegiada pelos estudos literários, já que comumente era vista como mera ambientação da narrativa. Nas últimas décadas, contudo, as teorias espaciais começaram a adquirir uma conotação mais dinâmica, passando a estabelecer laços mais estreitos com a experiência social, histórica e humana do indivíduo. Este trabalho tem por objetivo, pois, traçar um paralelo entre a estruturação do espaço operada no romance “Lavoura arcaica” (1975), de Raduan Nassar, e no quadro “O Quarto em Arles” (1888), de Vincent van Gogh. Especificamente, procura-se analisar a construção do espaço através das memórias do narrador do livro. Já no caso do quadro de van Gogh, serão analisados os efeitos de sentido produzidos pelo emprego dos traços, das cores e das formas que o compõem. Para tanto, foram selecionados os capítulos I e III do romance de Nassar (passagens em que o narrador revela a sua intimidade no quarto de uma pensão da cidade onde fora viver depois de abandonar a fazenda da família) e a obra pictórica “O Quarto em Arles”, representação do espaço em que van Gogh teria supostamente vivido antes de ser internado em um hospício. A aproximação dessas duas obras se deve ao fato de ambas representarem o quarto de forma bastante expressiva – um lugar marcado pelos sentimentos e pelas experiências íntimas dos seus moradores. As concepções de espaço ficcional aqui discutidas estão ancoradas, dentre outros, nos estudos de Bachelard (2008) sobre as imagens espaciais, de Brandão (2001) sobre a organização estrutural do espaço e de Yi-Fu Tuan (2006) sobre a relação afetiva do sujeito com o espaço. Conclui-se que o espaço literário é também uma forma de expressão humana e, por isso mesmo, comporta aspectos de ordem social, cultural, histórica, psicológica, simbólica etc.

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