Relações Heterotópicas na Literatura
- André PINHEIRO | Carolina AQUINO | Tiago BARBOSA
- 8 de mai. de 2017
- 2 min de leitura

Ao longo dos séculos, a categoria do espaço teve papel negligenciado no panorama dos estudos literários, que sempre discutiam com mais afinco questões relativas ao tempo e aos personagens. No entanto, o cenário mudou muito nas últimas décadas e hoje os segmentos espaciais cada vez mais atraem para si o interesse dos pesquisadores. O aumento no número de pesquisas fez com que a categoria do espaço fosse abordada a partir das mais diversas perspectivas teóricas. No aglomerado desses estudos, é bastante relevante aquilo que Michel Foucault (2001) denominou de heterotopia: os espaços assinalados por múltiplas camadas de significação. Para o pensador francês, alguns espaços se configuram por meio de uma representação simultaneamente material e simbólica – ele se apresenta no mesmo instante em que também se ausenta. De modo geral, as heterotopias mantém uma estreita relação com o corpo. O espaço em que se desenvolve a performance literária, por exemplo, apenas existe durante o ato espetacular. Trata-se, portanto, de uma heterotopia e constitui um terreno fértil para a criação de muitas outras. A literatura (ela própria uma heterotopia) está repleta de representações heterotópicas. Ao esboçar uma classificação tipológica para sua teoria, Foucault acaba por revelar importantes temas e procedimentos da literatura universal; um deles é a subversão da ordem que a ideia de morte pode causar. Com efeito, o espaço da morte foi paulatinamente sendo expurgado do interior do lar e relegado a hospitais e asilos: espaços alheios, desligados da convivência comum – logo, heterotopias de desvio. O objetivo geral desta mesa-redonda, portanto, é discutir o conceito de heterotopia cunhado por Michel Foucault, realizando leituras de obras literárias e indicando perspectivas para a compreensão e para a expansão de tal conceito.
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